Nação e Cultura Histórica: A Reforma de Ensino no Paraná

Desde muito tempo historiadores perceberam que o discurso histórico não se restringe às academias, às aulas e aos livros de história. Nas múltiplas dimensões da vida humana mobilizam-se formas do pensamento histórico que orientam a ação e a tomada de decisões dos sujeitos. Coletivamente, as sociedades modernas estão mergulhadas em uma cultura histórica que, ainda que não seja monolítica e isenta de conflitos, constitui substrato a sedimentar o sentimento de comunidade, projetando uma identidade através do tempo. Jorn Rüsen entende a cultura histórica como a memória histórica exercida na e pela consciência histórica. Ela seria a articulação prática e operante da consciência históricana vida de uma sociedade, integrando, assim, as funções de ensino, entretenimento, legitimação política, crítica social e outras maneiras de recordação e atualização do passado (Cf. RÜSEN, 1994).
Mais especificamente, a realização ou atualização de determinada forma de memória, implicando intervenções sobre a cultura histórica de uma sociedade, é também estratégia de legitimação política na busca de consentimento e engajamento coletivo. Este artigo busca entender as estratégias de intervenção sobre a cultura histórica, analisando as reformas da instrução pública empreendidas no estado do Paraná na primeira metade do século XX. Precisamente, centra a atenção sobre as intenções e práticas realizadas durante o governo de Caetano Munhoz da Rocha (1920-28) e conduzida por dois personagens centrais, César Prieto Martinez e Lysimaco Ferreira da Costa, entendidos como intelectuais-pedagogos, na caracterização de SMITH (1997), isto é parte da camada letrada, que atribui a si mesma certo sentido de missão, para instituir, despertar ou resgatar a identidade nacional e, assim, intervir sobre a cultura histórica, o espírito público e o sentimento de comunidade.




Sinopse



As análises apresentadas pelos artigos que compõem esta coletânea se articulam em torno de um objetivo comum: pensar as culturas políticas, as políticas para a educação e o ensino de História nas décadas de 1930 e 1940. As discussões realizadas partem da premissa que entre o final do século XIX até a década de 1940 a escrita de uma História Pátria ocupou importante papel nas preocupações de intelectuais e políticos brasileiros. Com o recrudescimento do nacionalismo observado após a Revolução de 1930 e, mais especialmente, no Estado Novo (1937-1945), o antigo diagnóstico de que a ausência de sentimento patriótico impunha riscos à unidade nacional se articularia a um amplo projeto político que pretendeu atingir diferentes setores do país, entre eles o educativo. Nesse movimento, a preocupação em se construir e consolidar uma dada consciência nacional colocou a História e seu ensino no centro dos debates das reformas educacionais e permitiu que ela alcançasse relevo em diferentes atividades privilegiadas nas escolas primárias e secundárias. Festas cívicas, associações auxiliares da escola, tais como os jornais escolares e as Ligas Pró-Língua Nacional – que faziam parte do cotidiano de muitas escolas - valorizavam e faziam usos de certos passados, as quais destacavam a importância da língua portuguesa, a riqueza e a grandeza da pátria, os deveres cívicos e patrióticos e as celebrações de datas, heróis e mitos nacionais. A preocupação com a formação do “espírito nacional”, a centralidade da unidade nacional nos discursos, a pretensa homogeneização cultural são chaves de leitura importantes para se compreender as políticas educacionais e o ensino de História no período, e são temas enfrentados pelos autores e autoras que participam desse livro.

Sumário


Parte I
Cultura política e cultura histórica: história e nacionalismo em debate

História nacional e a construção do “espírito brasileiro” (Santa Catarina – décadas de 1930 e 1940)...............................................19
Cristiani Bereta da Silva 
História Pátria, livro didático e cultura histórica............................................43
Luis Reznik 
Nação e cultura histórica: a reforma de ensino no Paraná .........................75
Jean Carlos Moreno 
Das nacionalidades ao nacionalismo: a disciplina História na política educacional (SC, 1930-1940)........................................93
Clarícia Otto 
Formar a alma da criança brasileira: as escolas nas áreas de colonização em Santa Catarina
(décadas de 1930 e 1940).........................................................................121
Luciana Rossato 
Parte II
Intelectuais e seus projetos de educação e História
 
Oswaldo Rodrigues Cabral e uma história de Santa Catharina....................................................................................127
Nucia Alexandra Silva de Oliveira 
Políticas educacionais no Estado Novo: o embate entre as propostas educacionais de Gustavo Capanema e Anísio Teixeira...................................................149
Caroline Antunes Martins Alamino 
Intelectuais e a nacionalização do ensino em Santa Catarina (1935-1945)................................................171
Flávio Welker Merola Gentil 
Nação, língua e ensino: aspectos da nacionalização a partir dos discursos de Carlos Gomes de Oliveira..................................191
Maíra Pires Andrade 
Parte III
Impressos, cinema e fontes orais
 
Memórias de professores em escolas multisseriadas/isoladas na região oeste de Santa Catarina...................... 211
Elison Antonio Paim 
Imprensa, política e educação no Sul Catarinense....................................230
João Henrique ZanelattoGiani Rabelo
 
Construção da memória histórica para além da sala de aula no Alto Vale do Itajaí-Açu: a imprensa e as festas cívicas (1930-1940) ................................................................246
Geane KantovitzStefanie Schreiber 
Cinema educativo e institucional: vozes do nacionalismo na era Vargas (décadas de 1930 e 1940)............................267
Lara Rodrigues Pereira 
Formadores da pátria” na Revista de Educação (Santa Catarina, 1936 1937).....................................................................281
Thais Cardozo Favarin


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Editora CRV 

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