sexta-feira, 3 de junho de 2016

Aula de 02/6/2016. Didática do Ensino de História.

AS IDENTIDADES E O PASSADO

terreno de enfrentamentos.

 

Aula de 02/6/2016. Didática do Ensino de História. Prof. Jean C. Moreno. UENP 

 

EM BUSCA DE IDENTIDADES

Uma questão contemporânea?

       (...) esse estado complexo de coisas chamado globalização disparou as lutas pela identidade, fez dessa substância tão intangível uma autêntica arena de debate e poder (Carretero).

       Em que momento da história da humanidade não foi enormemente difícil lidar com toda e qualquer diferença social, étnica ou cultural?

Luta identitária

  É considerada um leitmotiv da democracia contemporânea.

  Pluralismo e assimilação, as duas faces do desafio multicultural (CARRETERO).

  Nova “política das diferenças”: de gênero, de etnia, de classe, e de religião (exige-se o reconhecimento de cada identidade).

 

DIFICULDADE

(...) para dar limites que neutralizem a sensação de angústia e a confusão do homem contemporâneo

(...) identidades fragmentadas, parceladas e multiplicadas.

A conciliação de pluralidades pode resultar em um importante déficit de sentido (Carretero).

Releituras

o passado tornou-se, em função de memórias concorrentes, objeto de interesse e de uso político de muitos grupos, independentemente da ação ou explicação dos historiadores.

A história se escolhe

  Os países se deparam com a tarefa de escolhê-la e elaboram “políticas” para isso.

  Ao invés de um único grande relato, processos sociais complexos.

FORMAÇÃO DAS IDENTIDADES

Há uma reinterpretação, reelaboração, ressignificação do material fornecido pela história, que adquire especial significado dependendo do colorido da experiência do momento presente.

Experiência e horizonte de expectativas

quem somos e quem desejamos ser.

Exercício de poder simbólico

Classificar, caracterizar e falar sobre o “normal” e o “diferente” significa atribuir, não sem disputas, um sentido ao mundo social.

 

NA ESCOLA

  “Cultura acaba por reduzir-se a um conjunto inerte de valores e conhecimentos a serem transmitidos de forma não-problemática” (MOREIRA).

  Cultura situada no terreno das festas, curiosidades, artes, danças, músicas, costumes, comidas, etc.

  É preciso superar a prática escolar do multiculturalismo enquanto “feira das culturas” ou “turismo cultural” (Candau).

A cultura escolar: um universo monocultural?

¢ A cultura escolar apresenta um caráter monocultural.

¢ Currículo explícito  x currículo oculto.

¢ A perspectiva intercultural em educação não pode ser dissociada da problemática social e política presente em cada contexto.

¢ Relações culturais e étnicas estão permeadas por relações de poder. Daí seu caráter muitas vezes contestador, conflitivo e mesmo socialmente explosivo.

 

Nas políticas Educacionais

Brasil contemporâneo

MULTICULTURALISMO

  Convenção da UNESCO de 1960, direcionada ao combate ao racismo em todas as formas de ensino.

  Conferência Mundial de Educação para Todos – Jontien, Tailândia, 1990 – necessidade de reformas curriculares.

  Crítica à globalização: para muitos autores, os artefatos culturais e os universos simbólicos que se globalizam são ocidentais, e na maioria, norte-americanos.

PCN PLURALIDADE CULTURAL

  A idéia veiculada na escola de um Brasil sem diferenças, formado originalmente pelas três raças — o índio, o branco e o negro — que se dissolveram, dando origem ao brasileiro, também tem sido difundida nos livros didáticos, neutralizando as diferenças culturais e, às vezes, subordinando uma cultura à outra. Divulgou-se, então, uma concepção de cultura uniforme, depreciando as diversas contribuições que compuseram e compõem a identidade nacional (BRASIL p. 126).

 

PCNs - crítica

  Não problematiza a cultura branca, européia, ocidental.

  A “sociedade normal” e os outros – negros, índios, etc.

  As outras culturas continuam sendo tratadas como exóticas, embora se postule que não sejam inferiores.

  Tolerância.

NO BRASIL ATUAL 

Está em jogo uma leitura da escravidão, de suas heranças e das relações “raciais” na atualidade.

Ações governamentais

SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) criada em 21 de março de 2003.

Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

Legislação

  Lei nº 10639, 09 de janeiro de 2003 – História da África e cultura afro-brasileira.

  Resolução nº1 - 17/06/2004 - do Conselho Nacional de Educação, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira no Brasil.

  Lei nº 11645, 10 de março de 2008 – Povos Indígenas

 

SUPERAÇÃO

  De algumas ideias  (ou representações)

  a do negro visto apenas como escravo

a da África como um continente primitivo

a de que o negro foi escravizado porque era mais dócil, menos rebelde que os indígenas

a da democracia racial

 

Ações Afirmativas

  Objetivos: “não apenas coibir a discriminação do presente, mas sobretudo eliminar os “efeitos persistentes” (psicológicos, culturais e comportamentais) da discriminação do passado, que tendem a se perpetuar.

  Esses efeitos se revelam na chamada “discriminação estrutural” espelhada nas abismais desigualdades sociais entre grupos dominantes e grupos marginalizados.” Joaquim Barbosa, Ministro do STF.

  Barreiras  “artificiais e invisíveis”.

Ações Afirmativas

  Danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e educacionais sofridos sob o regime escravista.

  Bem como em virtude das políticas explícitas ou tácitas de branqueamento da população, de manutenção de privilégios exclusivos para grupos com poder de governar e de influir na formulação de políticas, no pós-abolição.

Ações Afirmativas

  Diferem das leis antidiscriminatórias, pois estas visam, primordialmente, a reparação cível (indenizatória) da vítima e a punição criminal do discriminador.

  As ações afirmativas buscam agir preventivamente, atingindo mecanismos discriminatórios historicamente enraizados na sociedade.

Ações Afirmativas

  Leitura Histórica

  “Há que se ampliar o foco da vida política em sua dinâmica, cobrindo espaço histórico que se reflita ainda no presente, provocando agora desigualdades nascentes de preconceitos passados, e não de todo extintos. A discriminação de ontem pode ainda tingir a pele que se vê de cor diversa da que predomina entre os que detêm direitos e poderes hoje”. Carmen Lúcia Antunes Rocha – Ministra do STF

HEBE MATTOS

  “O longo tempo de ausência e negação dessas histórias certamente contribuiu para fortalecer o preconceito e a intolerância” (p. 153).

  Se hoje se tenta quebrar essa ética do silêncio, nascida no contexto da sociedade escravista, o objetivo é transformar o quadro de desigualdade racial que “o silêncio não conseguiu reverter” (p. 195).

Mário Carretero

Calar as diferenças não representa um ato de cuidado ou de respeito, mas sim a falta de reconhecimento do outro. A omissão e o silêncio significam a discriminação tanto quanto a marcação ou o assinalar do outro, e ambos têm a mesma conseqüência: a exclusão do diálogo.

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